quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Eu sou matéria.


Quando era costume visitar a igreja, eu ouvia o padre dizer por alto que a Igreja somos "nós". E o que seriamos nós? Carne e osso?

Até pouco tempo nunca me perguntei isso, achei que fosse o tipo de pergunta que não fazemos, mas questionamos - se é que é possível - a nós mesmos desde sempre, e quando eu digo "sempre", quero dizer desde o surgimento da humanidade, antes mesmo de Jesus. Esta pergunta nos atormenta antes mesmo do surgimento das leis do certo e do errado.

Adão e Eva certamente não sabiam quem eram, não poderiam ser só barro e costela. Nem mesmo o primeiro primata, ou a primeira bactéria - depende do que você acredita - sabiam o que eram. Como posso saber eu?

Quem sou?

Carne e o osso?

Não. Sou mais do que matéria.

Sei que ocupo espaço, - ás vezes acho até que essa é minha única função - sei também que partículas de oxigênios estão se movimentando aqui dentro. Mas é somente o que a ciência diz? É somente matéria e ocupação de metro quadrado?

Não. Eu não sou só matéria.

Eu sou alma impulsionada a liberdade. Eu tenho o grito embolado no nó da garganta, sou o Sol que queima o coração. Cada batida por segundo tem um pouco de alma. O que é alma?

Possui matéria?                                               

Eu não sou só matéria!                                    

Eu sou o que criaram de tão mal grado, tenho como eu as feridas no punho que hoje cerro

inconscientemente. Este é o lado obscuro, o mais atraente aos olhos. O pecado sou eu.

Eu sou cada sorriso distribuído e renegado, sou o sabor salgado de lágrimas doentias. Tenho como eu o sofrimento e o prazer, lado a lado.

Sou carne e osso?

Se as vezes tenho vontade de arrancar o coração do lugar é somente para vê-lo sangrar e, assim, me sentir viva. "Pois a liberdade é como o Sol, é o bem maior do mundo". E eu sou alma impulsionada a liberdade, sou matéria, sou carne e osso e sou o que criaram de tão mal grado.

Eu sou o que habita em mim.

Eu sou a criação.


Gabriela Andrade.